<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d6432744\x26blogName\x3dANTES+DE+TEMPO\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dSILVER\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://antesdetempo.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://antesdetempo.blogspot.com/\x26vt\x3d810648869186397672', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

 
___________________________________________________________________

Quinze moedas
Para Alicia Jurado



Foto de Gabriele Rigon


UM POETA ORIENTAL

Durante cem Outonos pude olhar
o teu ténue disco.
Durante cem Outonos pude olhar
O teu arco sobre as ilhas.
Durante cem Outonos os meus lábios
Não foram menos silenciosos.


O DESERTO

O espaço sem tempo.
A lua é da cor da areia.
Agora, precisamente agora,
Morrem os homens de Metauro e de Trafalgar.


CHOVE

Em que outrora, em que pátios de Cartago,
Cai também esta chuva?


ASTÉRION

O ano cobrou-me o seu tributo de homens
E na cisterna há tanta água.
Em mim se juntam os caminhos de pedra.
De que posso queixar-me?
Nos fins de tarde
Pesa-me um pouco a cabeça de touro.


UM POETA MENOR

A meta é o esquecimento.
Eu cheguei antes.


GÉNESIS IV:8

Foi no primeiro deserto.
Dois braços lançaram uma grande pedra.
Não houve um grito. Houve sangue.
Houve pela primeira vez a morte.
Já não me lembro se fui Abel ou Caim.


NORTÚMBRIA, 900 A. D.

Que antes da alba o despojem os lobos;
A espada é o caminho mais curto.


MIGUEL CERVANTES

Cruéis estrelas e propícias estrelas
Presidiram à noite do meu génesis;
Devo às últimas o cárcere
Em que sonhei o Quixote.


O OESTE

O beco final com o seu poente.
Inauguração da campa.
Inauguração da morte.


FAZENDA EL RETIRO

O tempo joga um xadrez sem peças
No pátio. O estalar de um ramo
Rasga a noite. Lá fora, a planície
Vai espalhando léguas de sono e de pó,
Ambos sombras, copiamos o que ditam
Outras sombras: Heraclito e Gautama.


O PRISIONEIRO

Uma lima.
A primeira das pesadas portas de ferro.
Um dia serei livre.


MACBETH

Os nossos actos seguem o seu caminho
Que não conhece fim.
Matei o meu rei para que Shakespeare
Urdisse a sua tragédia.


ETERNIDADES

A serpente que cinge o mar e é o mar,
O repetido remo de Jasão, a jovem espada de Sigurd.
Só perduram no tempo as coisas
Que não foram do tempo.


E.A.P.

Os sonhos que sonhei. O poço e o pêndulo.
O homem das multidões. Ligeia...
Mas também este.


O ESPIÃO

Na pública luz das batalhas
Outros darão a sua vida à pátria
E recorda-os o mármore.
Eu vagueei, obscuro, por cidades que odeio.
Dei-lhe outras coisas
Abjurei da minha honra,
Traí quem me julgou amigo,
Comprei consciências,
Abominei o nome da pátria,
Resignei-me à infâmia.

J. L. Borges in A Rosa Profunda, 1975.



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?