<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d6432744\x26blogName\x3dANTES+DE+TEMPO\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dSILVER\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://antesdetempo.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://antesdetempo.blogspot.com/\x26vt\x3d810648869186397672', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

 
Os espelhos


Foto de Wiejewiatr


Eu, que senti o horror dos espelhos
Não só ante o cristal impenetrável
Onde acaba e começa, inabitável,
Um impossível espaço de reflexos,

Mas ante a água especular que imita
O outro azul no seu profundo céu
Que às vezes raia o ilusório voo
Da ave inversa ou que um tremor agita

E ante a superfície silenciosa
Do ébano subtil, cuja tersura
Repete como um sonho essa brancura
De um vago mármore ou uma vaga rosa,

Hoje, ao cabo de tantos e perplexos
Anos de errar sob a diversa lua,
Pergunto-me que acaso da fortuna
Determinou que temesse os espelhos.

Espelhos de metal, dissimulado
Espelho de acaju que pela bruma
Do seu crepúsculo vermelho esfuma
Esse rosto que olha e é olhado,

Infinitos os vejo, elementais
Executores de um antigo pacto,
Multiplicar o mundo como o acto
Genesíaco, insones e fatais.

Prolongam este mundo vão, incerto,
Na sua teia sempre fugidia;
às vezes pela tarde os embacia
O hálito de alguém que não está morto.

Espia-nos o cristal. E se entre as quatro
Paredes deste quarto houver um espelho,
Já não estou só. Há outro. Há o reflexo
Na alba erguendo um sigiloso teatro.

Tudo acontece e nada se recorda
Lá nesses gabinetes cristalinos
Onde, como fantásticos rabinos,
Lemos os livros da direita à esquerda.

Cláudio, rei de uma tarde, rei sonhado,
Não sentiu que era um sonho até ao dia
Em que um actor mimou sua felonia
Com arte silenciosa, num tablado.

Que haja sonhos é estranho, que haja espelhos,
Que o mais banal e gasto repertório
De cada dia inclua o ilusório
Orbe profundo que urdem os reflexos.

E Deus (pensei assim) põe um empenho
Em toda essa virtual arquitectura
Que edifica a sua luz com a tersura
Do cristal e a sombra com o sonho.

E Deus criou as noites, que se armam
De sonhos e as formas do espelho
Para que o homem saiba que é reflexo
E vaidade. Por isso nos alarmam.

J. L. Borges in O Fazedor, 1960.



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?