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segunda-feira, 20 de março de 2006

 
I


Foto de Lilya Corneli


A madrugada inútil encontra-me numa esquina deserta; sobrevivi à noite.
As noites são ondas orgulhosas: pesadas ondas azul-escuras cheias de mil despojos, cheias de coisas estranhas e atraentes.
As noites habituam-nos a misteriosas dádivas e recusas, a coisas meio entregues, meio retidas, a alegrias com um hemisfério obscuro. As noites agem assim, garanto-vos.
A vaga, nessa noite, deixou-me os restos do costume, os estranhos finais: alguns amigos odiados para conversar, música para sonhos e o fumo de amargas cinzas. Coisas que o meu coração faminto não sabe utilizar.
A onda grande trouxe-te.
Palavras, quaisquer palavras, o teu riso; e tu, sempre tão preguiçosamente bela. Falámos e esqueceste as palavras.
A aurora despedaçada encontra-me numa rua deserta da minha cidade.
O teu perfil ao voltares-te, os sons que constroem o teu nome, o canto do teu riso: são os brinquedos nobres que me deixaste.
Persigo-os na aurora, perco-os, encontro-os; repito-os aos poucos cães errantes e às poucas estrelas errantes da alba.
A tua vida obscura e rica...
Preciso de chegar a ti de algum modo: ponho de lado esses nobres brinquedos que me deixaste e quero o teu olhar oculto, o teu sorriso verdadeiro — esse sorriso irónico e solitário que o teu frio espelho conhece.

J. L. Borges in O Outro, o Mesmo, 1964.



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