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sábado, 16 de setembro de 2006

 
Os anjos do corpo – IV


Foto de Pascal Renoux



Meu infatigavel

anjo,

da guarda de meu corpo

São os anjos quem
guardam
os orgasmos

Pastores

Dos rebanhos
– dos ardores
Dos odores do corpo

Hei-de confessar-te
um dia
o meu desejo:

um anjo

que me acaricie devagar o clitóris
as pernas entreabertas
ao meu beijo

Quantas vezes te digo
que te dispo
e depois te lambo

primeiros as asas
e o pénis

e em seguida: o ânus

E o anjo
debaixo
ficou a acariciar o pénis
do anjo que voava
por cima

de manso procurando
o fundo
da vagina

Sou eu que te transformo
de prazer
em anjo do orgasmo

infatigável
suco
da língua

Naquilo que te faço

Com o teu clitóris
de ouro,
és o anjo

mamilos à flor da pele
que tapas com as asas

Os anjos descobrem
a vulva
no mesmo instante

em que sabem
do pénis:

com
as pernas ligeiramente
abertas
e desviando as asas

Despir os anjos
um por um

passando-lhes a língua...

lentamente,
pelo sal do pénis
Sorvendo-lhes em seguida
os sucos da vagina

Penteio com os dedos
os cabelos
deste arcanjo

respirando baixo
o interior macio
das suas pernas

o púbis
deste anjo

O sabor do esperma
dos anjos que imaginam

a-mar

as águas
uterinas

Lambe-me devagar
o céu da boca

como se a voasses

É um púbis de anjo
com pequenas asas

sob:
sobre a doce matiz
matriz
do clitóris

Viro-te anjo
debaixo do meu corpo

cubro-te:
voando – vogando
pelo nada

o teu pénis
direito
no meu púbis

e mais abaixo
a tua vagina alada

Adormeço de ventre
em tuas
asas

deitada ao comprido
no espaço
das tuas pernas

pernas

Cisterna
posta à beira
da sede dos teus braços

Primeiro roço-te
as asas
suspensas pelos teus ombros

imaginando apenas

aquilo que depois
mergulho
e faço:

Traz o anjo
o arrepio
ao corpo todo

um aperto nos
seios
e na vagina

Uma febre incerta
que vagueia
nas asas, nas coxas
e nas veias

Tinha um corpo de
lua
pelo lado da cor e do frio

em desiquilibrio no fio da faca
do orgasmo

O teu corpo,
neste envolvimento
de voo

e de vulva

Meu amor que mergulhas
de vertigem:

Anjo expectante
da vagina

A mistura de mim
com o teu corpo

asas pequenas que estremecem
debaixo do desejo

Não tens noção
de quanto é corpo o corpo
nem desejo

Anjo

Voando sobre
o que é baixo

Sob

Voando sob
o que é por baixo

Tocar-te apenas com
a língua
a cabeça do pénis

como se devagar
lambesse
o meu clitóris

até sentir o orgasmo
trepar-me pelas pernas

Bebem os anjos
a saliva
dos anjos

Pela taça
– exposta –
da vagina

São rarissimas as
asas
que não partem dos seios

a florir nos
ombros

Como um manso púbis
com os seios veios
de sombra

Quando
o clitóris toca
o clitóris dos anjos...

Lambe-me as asas
– disse o anjo
ao anjo mais perto...

dos seus pulsos


Maria Tereza Horta



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