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terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

 
A ler

Le lièvre de Mars se souvient. Aqui.

 
Haikus

Aqui.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

 
Uma estrada no campo. Uma árvore. Anoitecer




Estragon — Vamos enforcar-nos agora mesmo!
Vladimir — Num ramo? (Aproximam-se da árvore.) Não me parece de confiança.
Estragon — Não se perde nada em experimentar.
Vladimir — Força.
Estragon — Primeiro tu.
Vladimir — Não senhor, primeiro tu.
Estragon — Porquê eu?
Vladimir — Porque és mais leve do que eu.
Estragon — Por isso mesmo!
Vladimir — Não percebo.
Estragon — Puxa lá pela cabeça.
Vladimir pensa
Vladimir(finalmente) Continuo a não perceber.
Estragon — Então é assim. (Pensa.) O ramo... o ramo... (Zangado.) Puxa lá pela cabeça!
Vladimir — És a minha única esperança.
Estragon(com esforço) Gogo leve — ramo não partir — Gogo morto. Didi pesado — ramo partir — Didi sozinho. Porque se —
Vladimir — Não tinha pensado nisso.
Estragon — Se puder contigo pode com qualquer coisa.
Vladimir — Mas será que eu sou mais pesado do que tu?
Estragon — Lá isso não sei. O que é que tu achas? Há cinquenta por cento de hipóteses. Ou quase.
Vladimir — E então, o que é que fazemos?
Estragon — Deixa estar. O melhor é não fazermos nada. É mais seguro.
Vladimir — Vamos esperar para ver o que é que ele diz.
Estragon — Quem?
Vladimir — O Godot.


Samuel Beckett in À espera de Godot, Acto I.

(Imagens: Hanno Baumfelder). Aqui.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

 
Nouvelles du monde renversé



Aqui.

 
A ler
Tiago de Oliveira Cavaco, no Voz do deserto, faz a delirante análise dos heróis televisivos infantis Ruca e Noddy.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

 
Prémio Max Jacob



Vasco Graça Moura foi distinguido com o Prémio Max Jacob, o mais importante prémio para uma obra estrangeira editada em França. Une lettre en hiver et autres poèmes é uma recolha de poemas publicados entre 1963 e 2005.

 
Vilhelm Hammershøi e Carl Theodor Dreyer



O Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB) mostra até 1 de Maio a exposição conjunta de dois dinamarqueses. O pintor Vilhelm Hammershøi (Copenhague, 1864 – 1916) e o cineasta Carl Theodor Dreyer (Copenhague, 1889 – 1968). Hammershøi foi um pintor intimista que se manteve independente das correntes dominantes da sua época. Com um extraordinário domínio cromático e lumínico, Hammershøi pintou essencialmente cenas de interior (com atmosferas semelhantes às de Balthus) em que o factor tempo é fundamental.
Dreyer foi um cineasta essencialmente preocupado com a expressividade da luz e da sombra. Da sua filmografia constam obras como The President (Præsidenten, 1918), Michael (Mikaël, 1924), Master of the House (Du Skal Ære Din Hustru, 1925), The Passion of Joan of Arc (La Passion de Jeanne d’Arc, 1927), Vampyr (1932), Day of Wrath (Vredens Dag, 1943) e The Word (Ordet) que ganhou o Festival de Veneza em 1955. Ler mais aqui.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

 
Correio da Cassini

Titan Lakes. Aqui.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

 
Grandes portugueses

De toda a gente se falou: Salazar, Pessoa, Camões, Cunhal, Durão Barroso, etc., etc., etc.
Não ouvi nunca ninguém falar do Abade Correia da Serra. É um personagem que me fascina. Formou-se em Roma, foi diplomata em Londres, viveu os seus amores em Paris. Foi amigo íntimo do presidente Thomas Jefferson. Ainda hoje, em Monticello, na casa de Jefferson, se preserva o quarto do Abade Correia da Serra. Era membro de praticamente todas as sociedade filosóficas do mundo. Foi sócio fundador da Academia de Ciências de Lisboa. Ler mais aqui e aqui.

 
A ler

Pedro Mexia no Estado Civil: Prisão domiciliária.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

 
Portugal, trespassa-se (correcção)

Ainda a propósito do regulamento do concurso literário FNAC-Teorema, o clima surrealista adensa-se: fui informado que a FNAC não aceita o envio de manuscritos por EMS. Aconselha os jovens autores a enviarem os seus manuscritos repartidos por 5 envelopes. Isto, se cada manuscrito tiver 150 páginas e, portanto, com a encadernação não ultrapassar os 2 Kg. Mas se o manuscrito tiver 200 páginas ultrapassa os 2 Kg. e aí já ninguém sabe o que fazer. O jovem autor expedito fará um último, derradeiro e desesperado telefonema para a FNAC perguntando se pode enviar a sua obra dividida por capítulos. Ou terá que a imprimir em papel de bíblia?

Coragem, portugueses. Só vos faltam as qualidades.

 
Portugal, trespassa-se

Coragem, portugueses. Só vos faltam as qualidades.
José de Almada Negreiros.


PRÉMIO LITERÁRIO FNAC/TEOREMA 2007
Regulamento
1 - Âmbito e aplicação
Ao Prémio Literário FNAC/Teorema 2007 podem concorrer todas as obras inéditas de autores que não possuam qualquer obra de ficção publicada, seja romance ou colectânea de contos.
2 - Formato dos trabalhos
Cada trabalho deve ter entre 150 e 200 páginas em formato A4, 1800 caracteres por página, impressas a duplo espaço entre linhas e encadernadas. Devem ser entregues 5 exemplares do manuscrito, acompanhados do nome e contacto telefónico e, se possível, electrónico (não são aceites pseudónimos).
3 - Prémio
O prémio consiste na publicação da obra vencedora pela Editorial Teorema,
4 - Entrega dos textos
Os trabalhos devem ser enviados com aviso de recepção para a seguinte morada:
Prazo limite para recepção dos trabalhos: dia 15 de Fevereiro de 2007.
5 - Composição do júri
O júri é composto por 5 elementos:
Nuno Júdice, poeta e professor universitário
Rui Zink, escritor e professor universitário
Isabel Coutinho, crítica literária
Dóris Graça Dias, crítica literária
Carlos da Veiga Ferreira, editorial Teorema
(etc., etc., etc., o regulamento está, na íntegra, em PDF no site da FNAC.pt)

(os "bold" são meus)


Vamos, então, imaginar um jovem autor que concorre: trabalhou o seu livro até à exaustão. Dirige-se com (um mínimo) de 150 páginas A4 à loja das fotocópias para mandar fazer 5 cópias encadernadas. Gasta perto de 100 € e sai de lá com 750 folhas A4. Dirige-se ao posto dos Correios para enviar REGISTADO COM AVISO DE RECEPÇÃO. O funcionário dos CTT responde-lhe, paulatinamente, que isso é impossível: registos com aviso de recepção só até 2 Kg. Estão ali mais de 5 Kg de papel. O nosso jovem autor fica na dúvida. Enviar sem aviso de recepção é atropelar o regulamento. Das duas uma: ou volta para casa com 750 folhas de A4 ou envia registado por EMS (cerca de mais 100 €).
Quem faz estes regulamentos nada entende do que está a fazer. É gente que nada tem a ver com arte ou literatura. São simples funcionários incompetentes. Estão por todo o lado. Brincam e desprezam as pessoas, os jovens escritores deste país, o seu trabalho e os seus sonhos. São gente que não presta para nada, a coberto de instituições como a FNAC.


terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

 
Portugal, trespassa-se

Aqui.
Coragem, portugueses. Só vos faltam as qualidades.
José de Almada Negreiros.

 
Correio da Cassini



Into the Shadow. Na total inexistência de luz firma-se a inexistência. O que era deixou de ser. Sabemos que está lá? Pura presunção.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

 
Allan Kaprow



No Van Abbemuseum, em Eindhoven, inaugura amanhã a primeira grande exposição retrospectiva de Allan Kaprow na Europa. Allan Kaprow foi o "pai" dos happenings no final dos anos 50 e a exposição, com o título Kunst als leven – Art as Life, mostra pintura, desenho, escultura, objectos, vídeo para além de documentos, textos e projectos dos últimos cinquenta anos. Allan Kaprow nasceu em 1927 e estudou filosofia e história de arte com Meyer Shapiro. Foi também aluno de Hans Hofmann e de John Cage. Morreu em Abril do ano passado. A exposição poderá ser vista até 22 de Abril. Ler mais aqui.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

 
Beckett




Confirmada a existência como adiantam os estudos de Puncher e Wattmann de um Deus pessoal quaquaquaqua com barba branca quaquaquaqua fora do tempo sem extensão que das alturas da sua divina apatia divina atambia divina afasia nos ama a todos com algumas excepções por razões desconhecidas mas que o tempo dirá e sofre como a divina Miranda com aqueles que por razões desconhecidas mas que o tempo dirá estão mergulhados em tormentos mergulhados num fogo sendo que as chamas do fogo se isto assim continuar e quem pode duvidar que vai continuar queimam o firmamento ou seja rebentam com o inferno para o céu tão azul suave e calmo tão calmo com uma calma que apesar de intermitente é melhor que nada mas mais devagar e considerando aquilo que é mais do que o simples resultado dos trabalhos inacabados de Testu e Conard premiados pela Acacacacademia de Atropopopopometria de Essy-em-Possy fica estabelecido sem qualquer dúvida exceptuando a dúvida sempre inerente a qualquer trabalho que seja humano que como resultado dos trabalhos inacabados de Testu e Conard fica estabelecido daqui em diante mas mais devagar por razões desconhecidas que como resultado dos trabalhos de Puncher e Wattmann fica estabelecido sem qualquer dúvida que tendo em conta os trabalhos de Fartov e Belcher inacabados por razões desconhecidas para Testu e Conard inacabados também eles fica estabalacido o que para muitos é inaceitável que o homem em Possy de Testu e Conard que o homem em Essy que o homem em resumo que o homem em síntese apesar dos progressos na alimentação e na defecação é ainda visto a diminuir e a definhar a diminuir e a definhar e concomitantemente simultaneamente ainda para mais por razões desconhecidas apesar dos progressos da cultura física a prática de desportos tais como ténis futebol atletismo ciclismo natação aviação flutuação equitação planação conação remação patinação ténis de todos os tipos morrer voar desportos de todas as espécies outono, verão, inverno, ténis de inverno de todos os tipos hóquei de todas as espécies penicilina e sucedâneos numa palavra eu repito concomitantemente simultaneamente por razões desconhecidas a encolher e a decrescer apesar do ténis eu repito voar planar golf acima de nove e dezoito buracos ténis de todos os tipos numa palavra por razões desconhecidas em Feckham Peckham Fulham Clapham nomeadamente concomitantemente simultaneamente ainda para mais por razões desconhecidas mas que o tempo dirá a encolher e a decrescer eu repito Fulham Clapham numa palavra andando a perda por morte per capita desde a morte de Voltaire à volta de números de uma onça e meia per capita aproximadamente isto mais ou menos tirando aqui pondo ali arredondando para números redondos correctos totais nus nas meias nos pés na Normandia numa palavra por razões desconhecidas não interessa o que interessa é que os factos existem e considerando o que é mais muito mais grave que à luz dos trabalhos perdidos de Steinweg e Petermann que nas planícies nas montanhas à beira-mar à beira-rio água que corre fogo que corre o ar é o mesmo e então a terra ou seja o ar e então a terra naquele grande frio naquela grande escuridão o ar e a terra domicílio de pedras no grande frio enfim enfim no ano do Senhor seiscentos e qualquer coisa o ar a terra o mar a terra domicílio de pedras nas grandes profundezas o grande frio no mar na terra e no ar eu repito enfim enfim adiante adiante em resumo em suma adiante adiante domicílio de pedras quem pode duvidar eu repito mas mais devagar eu repito o crâneo a encolher e a diminuir e concomitantemente simultaneamente ainda para mais por razões desconhecidas apesar do ténis adiante adiante a barba as chamas as lágrimas as pedras tão azuis tão calmas enfim enfim adiante adiante o crâneo o crâneo o crâneo o crâneo na Normandia apesar do ténis dos trabalhos abandonados inacabados mais grave ainda domicílio de pedras numa palavra eu repito enfim enfim abandonados inacabados o crâneo o crâneo na Normandia apesar do ténis o crâneo enfim as pedras Conard ténis... as pedras... tão calmas... Conard... inacabados.


Samuel Beckett
, À espera de Godot, Acto I, 1948.


 
Samuel Beckett



Está em preparação no Centro Pompidou, para inaugurar a 14 de Março, a grande exposição sobre Samuel Beckett, reunindo um conjunto de documentos e manuscritos e relacionando-os com as obras de artistas contemporâneos tais como Mona Hatoum, Bruce Nauman, Andrew Kötting ou Alain Fleischer. O manuscrito de À espera de Godot, publicado em 1948, em francês, língua pela qual Beckett optou para escrever a peça, será também apresentado. Parte importante da exposição será dedicada ao teatro com a apresentação de arquivos audiovisuais, documentos e fotografias. O cinema também estará presente com a apresentação da única obra cinematográfica de Beckett, rodada em 1964 com Buster Keaton, e as explorações formais do escritor serão associadas às obras minimalistas de Sol LeWitt, Richard Serra ou Robert Ryman.

 
A visitar



Está a ser desenvolvido pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto um extraordinário trabalho de digitalização de obras antigas de difícil ou quase impossível acesso físico. Assim, neste novo portal — Fundo Antigo da Faculdade de Ciências —, surgem-nos já alguns títulos de extremo interesse, o primeiro dos quais impresso em 1519. É interessante visitar também a página do Fundo Iconográfico onde já estão disponíveis, neste momento, as gravuras de Francesco Bartolozzi. Aqui.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

 
Elisabeth Ballet



No Le Grand Café, Centre d'art contemporain, em Saint-Nazaire, inaugura amanhã a exposição de escultura de Elisabeth Ballet, Sept Pièces Faciles. As sete esculturas integram-se na arquitectura e funcionam como um conjunto de combinações e jogos de linguagem. A exposição poderá ser vista até 22 de Abril. Ler mais aqui.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

 
3 anos

O Antes de Tempo faz hoje 3 anos. Aos leitores que tanto me têm apoiado e colaborado, o meu muito obrigado.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

 
Daniel Spoerri



Inaugura amanhã no Centro per l'Arte Contemporanea Luigi Pecci, em Prato, a retrospectiva de Daniel Spoerri com o título geral Non per caso. De origem romena, nascido em 1930, Daniel Spoerri é uma das figuras importantes da arte europeia a partir dos anos sessenta. Esteve na origem do grupo dos Novos Realistas e participou activamente no movimento Fluxus. A retrospectiva mostra obras dos anos sessenta até ao ano passado, bem como (dado interessante), no catálogo que acompanha a exposição, são publicados vários textos do artista, traduzidos pela primeira vez para o italiano. Ler mais, aqui.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

 
Ainda... A la belle étoile

Frente ao Centro Pompidou, desde a noite de ontem e todas as noites das 19 horas às 8 da manhã. Também, aqui, em directo.

 
À memória de Rafael Monteiro


Painel do Arcebispo, Museu Nacional de Arte Antiga


Ainda os painéis
"de Nuno Gonçalves"

S. Tomaz de Cantuária?

(parte 3)


Para estudo dos eruditos, damos, em hors-texte, a reprodução de dois quadros em que figura o Arcebispo de Cantuária: o "Martírio" e os "Funerais", ambos do pincel de Michael Pacher, austríaco, que os pintou depois de 1467 (o pintor faleceu em 1498); guardam-se, ou guardavam-se, no Museu Joanneum, em Graz — ao sul da Áustria.
Tais quadros — contemporâneos das nossas "tábuas" — mostram-nos os padres agrupados como os pintados no painel chamado "dos cavaleiros"; curiosamente os revestem iguais sobrepelizes.
Em 1959, o Revº Padre Dr. António Leite escreveu: "As sobrepelizes ou alvas que ostentam os cónegos no painel do Arcebispo, por baixo das capas, e que se vêem ainda melhor nas tábuas laterais, talvez também nos pudessem oferecer algum elemento de identificação. Usar-se-iam em Portugal daquela forma?"
À inteligente interrogação ainda não responderam os nossos investigadores.



Michael Pacher, "Os Funerais de S. Thomaz Becket"




Michael Pacher, "O Martírio de S. Thomaz Becket"


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Naturalmente a pergunta aflora: mas quando, em Portugal, houve interesse ou devoção pelo mártir de Cantuária, ao qual nada nos liga? (Muitas são as notícias sobre S. Tomaz, em épocas diversas, prova do culto que lhe tributaram. P. ex.: no tardio período que decorre entre os anos de 1732 a 1737, ainda era dado a uma nau portuguesa o nome de "S. Tomaz de Cantuária"; no ano de 1685 professou em Alcobaça um religioso arrábido que tomou o nome de Frei Tomaz de Cantuária; Luís Fróis, na "História do Japam" (cap. 11º da 2ª parte), ao contar a morte do irmão Damião, escreveu: "E logo dahi a tres dias depois que adoeceo, que foi dia do Gloriozo Martyr S. Tomaz Arcebispo de Cantuária"; na "História das Guerras Angolanas" (escrita no século XVIII?) assim se descreve a igreja da Misericórdia de Luanda: "... e o altar-mor em baixo com dourado e fermoso Sacrário, com mais dous colaterais aos lados, um do Bom Jesus e outro de São Tomaz, Arcebispo de Cantuária".).
Andamos esquecidos da verdade, ou desconhecemo-la. Só sabemos história.
Um dos mais devotos fiéis de S. Tomaz foi o Infante D. Henrique, o culto e oculto homem da templária Ordem de Cristo, cujo Capítulo Geral, por determinação do Infante, teve lugar em Tomar, em 19 de Maio de 1426, "dentro do convento e igreja de Sam Thomas".
Não esqueçamos que o Infante, Lencastre por sua mãe, nasceu e cresceu entre crenças e usos da corte inglesa. Fr. João Álvares atesta a observância de um rito inglês, o de Salisbury, na corte portuguesa após o casamento de D. João I. (Tem interesse saber que a já citada Raymonde Foreville mostra ser o Breviário de Cantuária protótipo do Breviário de Salisbúria).
Mas, a ascendência inglesa do Infante será bastante para justificar a devoção, tão intensa, por S. Tomaz?
Talvez não. (Já D. Pedro falecido antes da união das casas reais, possuía como relíquia o anel "de oiro e safira" que ao Santo pertencera).
Pensamos que o culto se entrelaça noutro — mais antigo e notável: o culto a S. Tomé Apóstolo (Patrono dos Arquitectos e Geómetras), Padroeiro de Portugal, ao qual Camões assim rogava:

"Pedimos te, que a Deos ajuda peças,
Com que os teus Lusitanos favoreças".

O nosso povo ainda quer "ver e crer como São Tomé". E as outras classes? Que as levou a esquecer o Apóstolo, pescador da Galileia?

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O velho culto terminou no século XVIII, pela criação do Patriarcado de Lisboa, do qual foi D. Tomaz, Bispo do Porto, o primeiro Prelado. (Quando D. Manuel mandou edificar os "Paços da Ribeira", em Lisboa, no ano de 1500, neles mandou erguer a Capela Real (até então nos Paços de Alcáçova) dedicada ao Apóstolo S. Tomé. Em 1710 elo Breve de 1 de Março, Clemente XI erigiu a velha Capela Real em "Real e Insigne Colegiada de S. Tomé". Mas D. João V não ficou satisfeito... E o mesmo Papa, pela "Bula Áurea" de 7 de Novembro de 1716 concede o título de Igreja Patriarcal à Capela Real. O Bispo do Algarve, como executor da mesma Bula, expede em 23 de Dezembro daquele ano uma "sentença", na qual determina: "... e que a Catedral desta Metrópole será a Insigne Colegiada da Capela Real de Invocação de S. Tomé, cujo título, orago e natureza se suprimirá, exaltando-se a verdadeira de Arquiepiscopal e Igreja Metropolitana, debaixo da invocação de Nossa Senhora da Assunção".
33 anos depois, em Outubro de 1749, a Inglaterra tomava à Coroa de Portugal S. Tomé de Meliapor, no longínquo Malabar, lugar onde se acreditava estar o túmulo do Apóstolo que na Índia morreu trespassado à lançada, lugar sempre venerado pelos portugueses antigos.). (Seis séculos antes, na mesma cidade de Lisboa, D. Gilberto, eclesiástico inglês, era por D. Afonso Henriques eleito chefe da sua Igreja).

O homem estranho, sem par entre as outras figuras, que — no painel chamado "dos frades" — se encosta a um madeiro, a cabeça coberta com um gorro onde foi pintada grande e simples cruz, não é memória do milagre que Camões cantou, não representa um membro da comunidade oriental dos "cristãos de São Tomé?" (A cristandade de S. Tomé tem hoje cerca de dois milhões e meio de membros. Nas "Relações" dos padres em missão no Oriente são frequentes as alusões ao culto e aos cristãos de São Tomé).

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Tivemos já ocasião de apontar o transcendente acto de unção dos Reis medievos. Será oportuno dizer que o Papa Martinho V concedeu a D. João I (por intervenção de seu filho, o Infante D. Pedro) o raro previlégio de ser ungido, idêntica graça havendo sido concedida pelo Papa Eugénio IV a D. Duarte e a seu filho D. Afonso V. (Uma das preciosas obras que se guardam na rica Biblioteca de Évora, é o códice de pergaminho, magnificamente iluminado, ostentando as armas de Portugal e de Inglaterra (cota CV/1-36), cópia do "Ceremonial" da Capela de Henrique VI de Inglaterra, feita pelo Decano da mesma Capela a pedido de D. Afonso V. "Cerimonial" para a coroação? (Devemos esta informação ao nosso amigo Carlos Francisco Moura, Prof. da Universidade de Brasília e operoso investigador).

Olhemos mais uma vez as celebradas "tábuas".
São poucas as figuras em oração. No "painel do Infante" oram: o homem do chapeirão, e o clérigo, postado atrás, em atitude de patrono ou protector. À frente ajoelha alta personagem real — como por todos tem sido afirmado e confirmado.
No "painel do Arcebispo" a ordenação das personagens é rigorosamente similar: junto ao Santo ora personagem de alta gerarquia; por detrás, orando, o Bispo — em atitude de patrono ou protector. À frente ajoelha alta personagem real.
Se quisermos fazer uso da razão, somos obrigados a aceitar que são da mesma gerarquia e de igual grau as duas personagens que, frente ao Santo, dobram um joelho, graça só a Monarcas concedida.
Talvez houvesse interesse na tentativa de identificar alguns dos retratados com membros da nobreza de Inglaterra. Não têm certos autores considerado o Santo físicamente semelhante a algumas figuras que o rodeiam?
Segundo o nosso critério só 12 figuras, além da central, são identificáveis no políptico: as dos primeiros planos das tábuas centrais, e as duas dos "patronos" ou "protectores". As restantes, embora pintadas do natural, são meramente representativas de classes ou de profissões.

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Sem aparato erudito, chã e claramente, lembrámos. Com um pouco mais de trabalho talvez a lembrança conduza à certeza. Ainda se guardam segredos na cidade de Tomar. Pedro Álvares Sêco, cronista da Ordem de Cristo, escreveu, em belos pergaminhos, sobre a "razão porque se dedicou esta egreja do convento (de Cristo) a San Thomas arcebispo cantuariense do reino de Inglaterra". Não o lemos, mas estamos certos de que ele poderá ajudar os nossos investigadores.
Aos estudiosos que queiram "ligar" o que escrevemos, o que sugerimos e o que omitimos, cabe pronunciarem-se.

Castelo de Sesimbra,
aos 18 de Maio de 1973.

Rafael Monteiro

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